Vencedores do concurso «Eu sou muitas histórias»

Na sequência da oferta do livro Era uma vez eu, pela CML, e das sessões online com o escritor José Fanha, foi lançado um desafio às turmas do 2º ciclo. O mote foi uma frase da obra: «Cada um de nós é feito de muitas histórias maravilhosas ou terríveis que um dia nos aconteceram, coisas de ternura, de amizade, de surpresa, de espanto ou de medo.». Pedimos aos alunos que contassem uma memória sua, uma experiência inesquecível que tivessem vivido.

As vencedoras do concurso foram as alunas Alice Nobre, Maria Castro, Catarina Nunes e Carolina Pereira, que vão receber como prémio o livro Quero ser escritor, de Margarida Fonseca Santos. Eis as suas histórias:

«O pesadelo mundial»

Eu acho sempre que a hora mais angustiante, quando estamos nas aulas, é quando se ouve um barulho agudo. Significa que está na hora do intervalo.

Durante muito, muito tempo não se ouviu esse barulho. O único barulho era o do aspirador de alguém que tinha o microfone ligado.

Má internet era um pesadelo, tal como os irmãos mais novos a entrar pelo quarto adentro!

Todos fomos castigados. Foi como quando alguém faz alguma coisa, mas culpam-te a ti!

É injusto, eu sei, mas a vida é assim, cheia de altos e baixos!

Acho que ninguém vestia completamente a roupa. Púnhamos uma sweatshirt por cima do pijama e pronto! Toca a ir para a frente do computador!

As aulas, bem, eram estranhas e diferentes, mas eram engraçadas, especialmente quando alguém punha um fundo virtual e parecia que a cabeça estava a flutuar!

Todos desejávamos o fim daquele pesadelo.

Maria Castro, 5ºA

«A receita única que eu nunca irei esquecer»

Esta memória minha é uma das memórias mais guardadas por mim. Traz-me saudades e fico com vontade de reviver o momento com a minha querida e incrível avó.

Lembro-me de estar no Alentejo numa casa luminosa de campo, onde as ervas brilhavam e as árvores dançavam. Estava dentro de casa com a minha avozinha a dar abracinhos e a ver televisão, quando, de repente, a minha irmã caiu no sono e adormeceu, fez uma sestinha.

Nesse momento, eu e a minha avó decidimos fazer-lhe uma surpresa. Foi aí que eu senti que aquilo era uma memória que eu nunca ia esquecer.

Nós pegámos na farinha, no açúcar, na manteiga, nos ovos, no leite, nas pepitas de chocolate e no ingrediente secreto, o amor!

Eu punha a farinha, a minha avó, os ovos e todos os ingredientes a seguir uns aos outros; por fim, criámos a nossa receita única.

A nossa receita no forno a dar amor à casa.

Naquele momento percebi a sorte que tinha em ter uma avó assim! Este momento foi especial para mim porque às vezes sinto que, com o Covid, nunca mais vai voltar a acontecer.

Alice Nobre, 5ºA

«Mudanças»

No fim do meu 4º ano, percebi que muito ia mudar. Eu ia mudar de escola, passar para o 2º ciclo e conhecer muitas pessoas novas. Podemos dizer que eu estava nervosa.

O dia chegou e eu tive o que algumas pessoas iriam chamar de montanha russa de emoções. Quando eu vi a minha escola nova de perto, eu estava sem palavras. Era grande e bonita. Embora estivesse nervosa, não consegui conter o meu sorriso. Isto era o começo de algo novo. A abertura de uma nova porta na minha vida.

Inspirei fundo e entrei. O corredor, o pátio com o grande campo de futebol, a biblioteca com as grandes janelas, que deixavam toda a luz natural entrar e iluminar os livros, tudo era diferente. E o sorriso não saía do meu rosto. Eu tinha chegado muito cedo, então decidi tirar algum tempo para conhecer a escola e saber qual era a minha sala, para que não andasse à procura dela quando o sino tocasse.

E quando tocou, eu nem podia acreditar no que via. Uma avalanche de gente nos corredores. Eu sentia-me uma formiga numa escola para humanos. Rapazes e raparigas, todos parecendo muito mais velhos que eu, entravam nas suas salas, com os livros na mão, para a primeira aula do novo ano letivo.

Eu lembro-me de a primeira aula ser Ciências Naturais, uma disciplina de que eu até gostava muito. E lá estava o sorriso de novo. Eu percebi que alguns dos meus amigos da minha antiga escola estavam na mesma turma que eu, o que significava que eu não estava completamente sozinha neste novo ambiente.

O sino tocou para indicar o fim do dia. Arrumei as minhas coisas e saí. Aquele dia tinha sido um ótimo dia.

Catarina Nunes, 6ºG

«Passeio e recordação»

Esta história que vos vou narrar hoje passou-se num dia de inverno. Um dia diferente…Estava muito frio e um vento melancólico rodopiava na casinha amarela onde tudo aconteceu. A casa do meu avô.

Neste dia acordei muito cedo, ainda os galos não se dignavam a cantar a melodia que indica que as horas de sono leve acabaram e que chegou a hora de fugir daquele mundo só nosso que, em sonhos, conhecemos tão bem.

Dirigi-me apressadamente ao quintal. Lá posso pensar, sentir e ouvir a Natureza. Acabei por adormecer de novo. Acordei apenas quando um pêlo macio roçou na minha face. Era a minha égua favorita, a Alteza:

-Olá! – cumprimentei-a como se ela pudesse realmente entender as palavras mágicas criadas pelos humanos. Ela parecia desejar ardentemente algo que estava talvez distante, talvez mesmo ali ao nosso lado. Aí percebi!

-Ahh! Queres ir passear? É isso? – Alteza assentiu. Eu senti-me atormentada, pois aquela seria a primeira vez que montava sem a companhia reconfortante do meu avô.

Tempos depois lá estávamos nós nos campos verdejantes a saborear a brisa que dançava nos sons produzidos pela querida Alteza.

Ainda não tinha interiorizado que estava a ter aquela aventura linda. Nós galopávamos, felizes…

Naquele momento fechei-os. Fechei os olhos e senti tudo o que me rodeava.

Mas esta história, durante um tempo, morreu no meu pensamento. Depois de a Alteza falecer, eu já não tinha vontade de me lembrar do nosso tempo juntas. Mas agora sei que as lembranças são o que mantém os que nos são queridos dentro de nós.

Carolina Pereira, 5ºA

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